E aí, v*@iadão?
- E essa camisa? Onde você comprou tinha pra homem?
- Uhhhh, olha o cabelinho dele… Coisa gay!
- Quê? Vai pedir Coca Zero? Viado, viado, viado…
- Sabe como eu sei que você é gay? Porque você toma café com o dedinho levantado.
Quantas milhares de vezes vocês ouviram as frases acima sendo ditas para homens heterossexuais convictos?
É, eu sei, macho adora chamar o seu amigo de gay.
Somos assim, fazer o quê? Passamos grande parte do nosso sagrado tempo achincalhando com carinho o companheiro mais próximo. Não perdemos uma oportunidade de duvidar da sexualidade do outro.
Claro, nunca brincamos assim com homossexuais. Aí não teria graça. Os garotos se divertem mesmo provocando os iguais.
A coisa é tão natural, que nunca eu tinha pensado sobre o assunto. Nesses anos todos de site, blog e livro, jamais escrevi comentando por que raios a gente sacaneia tanto os brothers chamando a rapaziada de viadão.
Foi uma mulher que me chamou a atenção para essa idiossincrasia.
Estava conversando com uma doce amiga, dessas figuras retiradas de livro de fábula. Ela se parece com alguma personagem da nossa infância. Mas não se engane. A pequena é antes de tudo uma forte.
Além de mãe de gêmeos, casada, ela também dá ordens em diversos barbudos por aí. Diretora premiada, ela passou recentemente uma temporada gravando com um bando de marmanjos um programa de TV. Eles atravessaram o Brasil em busca de aventuras. E a danada foi a única mocinha da trupe.
Então, num papo informal, ela me soltou o espanto: “Careca, sabe o que mais me chamou a atenção? É como vocês têm que ficar o tempo todo rebaixando o outro pra mostrar que são os donos do pedaço. O homem não passa trinta segundos sem chamar o outro de viado. É tão infantil… E cansa um pouco. Mas tudo bem. A gente entende, vai”.
virgem
Peguei meu caderninho e anotei. Na sequência, recebo a ligação do bom amigo Juquinha, e como ele me cumprimenta? “Fala viado!”, ele exclamou no fone. E eu devolvi: “E aí, travesti?”.
Não é que essa história funciona assim mesmo?
Entre os machos, é viado pra lá e pra cá o tempo todo.
Lembrei também de uma cena antológica do clássico “Virgem de 40 Anos”, do mestre Judd Apatow. Em determinado momento, dois garotões estão jogando videogame e passam longos minutos chamando o outro de viado. Vale a pena retomar aquela sequência e conferir umas trocentas vezes por que cada um acha que o outro joga no outro time.
Nós somos assim. Freud deve ter mencionado em algum lugar que inconscientemente fazemos isso pra provar que somos mais machos que o outro.
Quando chamo a atenção para a viadagem de alguém, já tento deixar claro que o machinho ali sou eu. E assim seguimos.
Também é mais uma dessas maneiras exóticas que temos de demonstrar carinho pelo outro. Ou revela algum preconceito? Sabe que eu não sei? Que coisa. Agora tenho que pensar.
As meninas não ficam por aí se cumprimentando “e aí, sapata?”. Ou ficam?
Assim como amar futebol, ser meio estúpido e engraçado, chamar o outro de viado é uma característica dos machos.
Agora é tarde pra parar. Não é preconceito, não. É nosso jeitinho.
É só mais uma sacanagem pra tentar provar nossa masculinidade.
Sabe criança quando pede pra ver o mesmo desenho da Disney quinhentas vezes? Ou o adulto que ama os bordões da “Zorra Total”? Então. Para os meninos, chamar o outro de viado é apenas estar num ambiente amistoso, em que ele pode falar umas bobagens e não ser recriminado.
Espero que isso não irrite as pequenas. Nem os gays.
Estamos perdoados?
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